MOSTRA HORS CONCOURS/HORS CONCOURS EXHIBITION
Um dos destaques da Mostra Hors Concours propõe o encontro entre dois filmes que promovem diferentes olhares e leituras do imaginário sobre Brasília. Em Machine to live in, apesar do título aludir à “máquina de morar” como ideal de cidade funcionalista, trata-se de fato de uma visão externa sobre Brasília e sobre a cultura mística e sincrética que serve como redimensionamento do vulto utópico por trás do projeto da cidade e das arquiteturas futuristas e exóticas que marcam sua identidade. Galeno: curumin arteiro, por sua vez um olhar local, sonda como um artista radicado na cidade, com sua estética popular, lúdica e ao mesmo tempo abstrata e construtiva, possibilita uma releitura das arquiteturas oficiais da capital quando a elas integradas.
Na mostra hors concours, o debate se expande para além de Brasília. Com o intuito de promover um diálogo entre pensadores sobre a cidade, a mostra traz filmes sobre mestres da arquitetura do porte do brasileiro Paulo Mendes da Rocha e do português Nuno Portas. O que surge da relação entre esses filmes? Em Tudo é Projeto, documentário realizado pela filha de Paulo Mendes da Rocha, apendemos que a cidade é uma questão política, um fenômeno que surge pouco a pouco de vontades. Mais que isso, a razão de ser da cidade é o encontro, ela é, nas palavras do arquiteto uma organização humana que serve na essência para aplacar a angústia da solidão, por isso ela deve ser democrática e abrigar a imprevisibilidade da vida, não nos obrigando a determinados comportamentos. A Cidade de Portas é um documentário sobre a cidade como fronteira do pensamento de Nuno Portas, arquiteto visionário, urbanista e professor emérito da Universidade do Porto, Portugal. Suas reflexões, seus projetos arquitetônicos e urbanísticos, bem como os planos urbanos que coordenou e os livros que escreveu suscitam um debate profundo sobre a cidade como objeto cultural, repleto de contradições espaciais que definem a experiência quotidiana do “ser urbano”.
O encontro entre La Jetée, de Chris Marker, e Aeroporto Central, de Karim Aïnouz, sugere um debate em torno do imaginário do aeroporto. Em Aeroporto Central, o diretor brasileiro acompanha o cotidiano de dois refugiados no maior ponto de acolhimento para expatriados das guerras recentes do Oriente Médio, o primeiro aeroporto de Berlim, o Tempelhof. O aeroporto é colocado como um lugar para pessoas sem lugar, lugar de construção de pertencimento, mesmo que provisório, em um tempo suspenso de espera. O clássico experimental de Chris Marker, por sua vez, uma espécie de ficção científica construído com imagens de arquivo fotográfico, conta a história de um experimento de viagem no tempo cujo personagem, marcado por uma imagem de sua infância, deve retornar ao passado para reverter o presente trágico do pós-guerra. O Aeroporto de Orly, em Paris, cenário de retorno no tempo, é um ponto fundamental de ancoragem das lembranças do personagem. São filmes sobre o resgate da memória como instrumento de compreensão de traumas, filmes simultaneamente sobre a morte - que também pode ser subjetiva - e a aposta na vida.
Por André Costa, pesquisador e curador de cinema de arquitetura, mestre em cultura contemporânea e doutor em cinema brasileiro pela FAC-UnB, professor do Departamento de Expressão e Representação da FAU-UnB.
Metrópolis
Alemanha, Fritz Lang, 1927, 145`
O ano é 2026, a população mundial se divide em duas classes: a elitedominante e a classe operária; esta é condenada desde a infância a habitar ossubsolos, escravos das monstruosas máquinas que controlam a Metrópolis.Quando o filho do criador de Metrópolis se apaixona por Maria, a líder dosoperários, tem início a mais simbólica luta de classe já registrada pelo cinema.