



Aprendendo com as cidades
O tema curatorial proposto originalmente "Aprendendo com Brasília" – título emprestado do livro "Aprendendo com Las Vegas" (1972), de Venturi, Scott Brown e Izenour – pautou a seleção da programação da Mostra. Passados 61 anos da inauguração, hoje parece possível pensar Brasília para além de uma compreensão congelada de patrimônio, estimulada ainda, talvez, por certo ufanismo pioneirista.
Brasília continua em construção, e aprender com ela significa não apenas superar o debate em termos de êxito ou fracasso da utopia que motivou sua construção; significa acima de tudo entender o funcionamento condicionado pela singularidade de seu projeto de cidade.

A Menina de Sessenta
Jimi Figueiredo, 26', 2020, Brasil.
Brasília completa 60 anos tentando lidar com uma contradição: como um moderno projeto arquitetônico, feito para 500 mil pessoas, sobrevive numa cidade de quase 4 milhões de habitantes?

Backwards
Marco Augelli, 11', 2020, Reino Unido.
Em um mundo corporativo onde as pessoas andam para trás, Minus precisa controlar seus instintos para se encaixar na sociedade e subir na escala social.

Brisa Solar
Ana Pissara e José Nascimento, 76', 2020, Portugal.
Moçambique 1974 - o nome europeu da capital Lourenço Marques foi apagado e substituído por Maputo. Depois da revolução dos cravos em Portugal, a cidade moçambicana “passou para a mão do povo” e os novos habitantes que ocuparam a cidade dos brancos trouxeram uma cultura rural.
Entre a delicadeza e o apocalíptico, Brisa Solar revela os pequenos segredos de uma cidade africana que nasceu de um sonho modernista, que protagonizou uma revolução e que vê hoje o seu valor patrimonial e cultural ameaçado pelo capitalismo chinês.

Cão Maior
Filipe Alves, 20', 2019, Brasil.
Ícaro é um adolescente que procura matar o tédio nas férias. Voltando de uma partida de futebol ele conhece João e juntos presenciam o aparecimento de uma nova estrela no céu, que torna as noites na Terra vermelhas e quentes. Tentando lidar com o fato de que estão crescendo, com o tédio e o calor extra nesse verão, eles começam a passar noites juntos pelas ruas da cidade.

Cidade - Museu Habitado
Jéssica Dias Gomes, Letícia Pacheco Reis de Souza e Tainá Lourenço de Abreu, 6', 2019, Brasil..
O curta é resultado de uma experimentação artística, percorrendo a cidade de Brasília, motivada pelas seguintes perguntas fundamentais: existe arte no cotidiano? É possível identificá-la através de uma experiência museógrafa pessoal que extrapole as paredes físicas do “museu edifício’’? O filme visa refletir sobre a nova proposta da arquiteta Lina Bo Bardi no projeto do edifício Masp (São Paulo, Brasil.), projetado na segunda metade do século XX.

Cities - Territories and Ocupation
Gusztáv Hámos e Katja Pratschke, 30', 2019, Alemanha.
Cidades (Territórios e Ocupação) é sobre "a cidade" dividida em distritos, bairros, zonas e domínios, marcada por fronteiras urbanas. O filme investiga como as cidades emergem e se transformam por meio de inclusão e exclusão, migração, decadência, destruição, demolição, realocação e deslocamento.
Nos perguntamos como os territórios urbanos se formam e por que mudam? Quem controla a cidade ou como os habitantes criam espaços livres? Quem é dono da cidade? Quais visões e mudanças urbanas prevalecem ou são impedidas?

Ghanzhou - A New Era
Boris Svartzman, 72', 2019, China.
Em 2008, os moradores de Guanzhou, uma ilha fluvial na China, são despejados para a construção de um suposto Parque Ecológico, mas poucos habitantes retornam à ilha. Durante 7 anos, Boris filma a luta deles para salvar suas terras, desde as ruínas da vila até os canteiros de obras da cidade que avança inexoravelmente em sua direção. Será que eles compartilharão o mesmo destino de 5 bilhões de camponeses chineses expropriados anualmente?

Konder: O protagonismo da simplicidade
Gabriel Mellin e Igor de Vetyemy, 89', 2020. Brasil.
O documentário apresenta a vida e obra de um dos maiores arquitetos do Movimento Moderno brasileiro: Marcos Konder Netto. É autor de projetos emblemáticos e símbolo do engajamento social na arte e cultura arquitetônicas de sua época, Konder buscou contribuir ao máximo para o bem-estar da sociedade, equilibrando consciência social, teoria, técnica e política. Além de depoimentos de personagens importantes em sua trajetória, o longa apresenta as principais obras do premiado arquiteto, sua visão crítica e os maiores marcos de sua personalidade: a generosidade e a simplicidade

Luis Humberto
O olhar Possível
Mariana Costa e Rafael Lobo, 20', 2019, Brasil.
Um olhar poético e íntimo sobre a vida e o trabalho do fotógrafo Luis Humberto.

O ínterim
Duda Affonso, Julia Nogueira E Manuela Curtiss, 11',
2020, Brasil.
Um filme que é uma colagem afetiva e apresenta uma cidade subjetiva, cidade de vivências possíveis, distante da narrativa central conhecida, entretanto nela contida. Os ideais se cumprem através das pessoas que realizam a cidade, fazem dela uso e a registram para assim apreendê-la. Assim como antes, o futuro. Suas estruturas ainda espantam e fascinam os
novos olhos que nelas pousam.

O que vai acontecer aqui?
Left Hand Rotation Collective, 83', 2019, Portugal.
Um documentário sobre os movimentos sociais que defendem o direito a habitar na cidade de Lisboa, num momento de intensificação das lutas pelo espaço urbano provocada pela expansão do capitalismo financeiro, que concentra riqueza em mãos de uns poucos, e aumenta a desigualdade social. Um documentário sobre aquelxs que desafiam a conversão da cidade numa mercadoria, sobre xs que desobedecem à injustiça construindo poder do lado de quem procura um lugar para viver. Um documentario de Left Hand Rotation, em colaboração com Stop Despejos e Habita!
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Serial Parallels
Max Hattler, 9', 2019, Hong Kong.
Esta animação experimental aborda o ambiente construído de Hong Kong a partir da perspectiva conceitual do filme de celuloide, aplicando a técnica da animação cinematográfica à imagem fotográfica. A arquitetura característica da cidade, com conjuntos habitacionais que eclipsam o horizonte, é reimaginada como fileiras paralelas de tiras de filme: Paralelos em Série.

Where to with history?
Hans Christian Post, 62', 2019, Dinamarca.
Dresden ficou famosa pela tentativa de reconstruir seu centro uma vez bombardeado, mas famigerado devido ao surto da extrema-direita que varre a cidade. Toda segunda-feira à noite, essas duas realidades se confrontam, já que o movimento Pegida toma as ruas. Mas as duas realidades se opõem? Ou a tentativa de reconstrução do que foi perdido em 1945 ajuda a trazer de volta os fantasmas políticos daqueles tempos? O filme aborda isso, assim retratando uma cidade tomada por um passado destrutivo que não vai embora.

A Cidade de Portas
Humberto Kzure e Teresa Prata, 80', 2021, Brasil/Portugal.
A Cidade de Portas” é um documentário sobre a cidade como fronteira do pensamento de Nuno Portas, arquitecto visionário, urbanista e professor emérito da Universidade do Porto -
Portugal. As suas reflexões, os seus projectos arquitetónicos e urbanísticos, bem como os planos urbanos que coordenou e os livros que escreveu, suscitam um debate profundo sobre a cidade como objecto cultural, repleto de múltiplas ambiências e contradições espaciais, que refletem e definem a experiência quotidiana do “ser urbano”.
O universo de Nuno Portas, nascido em Vila Viçosa em 1934, começou no Atelier da Rua da Alegria em Lisboa, onde trabalhou com o notável arquitecto Nuno Teotónio Pereira. As ideias pioneiras, contundentes e ousadas de Portas materializaram-se em contributos valiosos em cidades como Lisboa, Porto, Guimarães, Aveiro, Madrid e Rio de Janeiro.
No contexto luso-brasileiro, o filme retrata, através de distintas vozes, o percurso multifacetado de Portas, cujo legado contribui para a valorização e a difusão do conhecimento em Arquitectura e Urbanismo para as gerações futuras.

Aeroporto central
Karim Aïnouz, 100', 2018, Brasil/Alemanha/França.
Vencedor do Prêmio da Anistia Internacional no Festival de Berlim deste ano, o documentário Aeroporto Central (Zentralflughafen THF), de Karim Aïnouz, é o primeiro longa do cineasta totalmente falado em língua estrangeira e tem como pano de fundo o antigo aeroporto de Tempelhof, na capital alemã, uma das construções mais emblemáticas do regime nazista, que há dez anos foi desativada para voos mas até hoje permanece como um ponto de chegadas e partidas: enquanto o seu entorno se transformou em área de lazer para os berlinenses, em seu interior encontram-se abrigadas cerca de 3.000 pessoas à espera de asilo na Alemanha, oriundas da recente onda migratória que assolou o Oriente Médio.
Aïnouz acompanha a vida dentro dos hangares e no parque do aeroporto seguindo o jovem sírio Ibrahim Al-Hussein, então com 18 anos. O garoto morou no local durante um ano, até saber se seria beneficiado com a permissão de residência no país ou se seria deportado. Através do olhar de Ibrahim e suas descobertas, o filme remete Berlim de volta a uma surpreendente tensão entre crise e utopia, entre a necessidade de partir e o desejo de ficar.

Galeno - Curumim Arteiro
Marcelo Díaz 52', 2010, Brasil.
De seu ateliê em Brazlândia (DF), Francisco Galeno interpreta sua infância no Delta do Parnaíba a partir de cores vibrantes e formas simples que narram festas rurais e suburbanas, o mundo marginal das cidades-satélites do Distrito Federal, a geometria de Brasília e sua própria arte. Lamparinas, carretéis, pipas, anzóis são elementos de ligação entre a infância e as elaborações da vida madura. O menino Galeno guia o artista.
Chris Marker, 28', 1962, França.
La jetée é um curta-metragem de ficção científica francês de 1962, em preto e branco, realizado por Chris Marker. Considerado um dos marcos da Nouvelle Vague e do cinema e altamente considerado um dos melhores curta-metragem de todos os tempos.

La jetée
Yoni Goldstein, Meredith Zielke, 89', 2020, EUA.
A Machine to Live In é um documentário híbrido que liga as estruturas de poder cósmico do estado à arquitetura mística de cultos e cidades utópicas no interior remoto do Brasil.A Machine to Live In é um documentário híbrido que liga as estruturas de poder cósmico do estado à arquitetura mística de cultos e cidades utópicas no interior remoto do Brasil.

Machine to live in
Joana Mendes da Rocha e Patricia Rubano, 74’, 2017, Brasil.
Documentário sobre a vida e obra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, contada por ele em entrevistas para sua filha. Com 90 anos de idade, Paulo Mendes é hoje um dos mais importantes e renomados arquitetos do mundo, porém, acima de tudo um pensador cujas ideias e opiniões polêmicas sobre urbanidade, natureza, humanidade, arte e técnica merecem ser ouvidas. Em um constante diálogo entre entrevistado/pai e entrevistadora/filha, Joana é o fio condutor do filme. Como em todas as relações pessoais, principalmente entre pais e filhos, o fio que conduz é também o que é conduzido.

Tudo é Projeto
Frank Pineda, 14', 1988, Nicarágua.
A travessia por uma cidade em estado de sítio feita por um homem misterioso. Escrito, dirigido, produzido e filmado por Frank Pineda. Com Valerio Lisanko. Filmado em 35mm.

El hombre de una sola nota
Marcelo Raffo Tironi, 26', 2019, Chile.
“(In)audible” se dispõe a buscar a memória invisível – inaudível – que Valparaíso abriga. Durante essa busca, surge uma sonoridade desaparecida em uma cidade incomum. Aparece a cidade das máquinas, dos protestos sociais, da água escondida e canalizada embaixo da terra. Uma memória que permanece sonoramente.
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Inaudible
Carla Serrano e Edgar Cortez, 12', 2018, Equador.
Uma telha de barro cozido, decorada com papel colorido, guirlandas e a figura de um cavalo, destaca-se no telhado de uma casa na comunidade de Cashaloma (Imbabura, Equador).
A colocação da última telha faz parte do ritual indígena de "huasifichai", ou inauguração da casa, e é considerada uma homenagem à pessoa que acaba de construir sua casa.

La ultima teja
Julia Chacur, Priscila Serejo E Mateus Sanches
Duarte, 8', 2020, Brasil.
Entre 1954 e 1974, estabeleceu-se na Zona do Mangue do Rio de Janeiro a
República do Mangue, um regime representativo, que sob controle médico e
vigilância policial, as mulheres decidiam quem deveria assumir a administração das
casas de prostituição. A partir de imagens sobreviventes, o curta propõe um outro
olhar sobre esta memória de disputa e resistência.

República do Mangue
Ana Sánchez e Gabriela Barolo, 29', 2016, Argentina.
Rock! é um documentário de média-metragem que narra a trajetória da cultura jovem portenha durante a longa década de 1960. As visões em transformação da cidade de Buenos Aires, sua música, indústrias culturais, conflitos intergeracionais e política são transmitidas por meio de uma colagem de fontes audiovisuais. Neste documentário, o arquivo fala por meio da montagem de vários fragmentos de filmes, músicas, documentários, reportagens e videoclipes. Em Rock!, o passado ganha vida por meio de suas próprias imagens e sons.
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Rock!

Sin Manual
Francisco González Piña, 69', 2016, México.
Esta é a história da equipe que colocou a engenhosidade mexicana à prova para resolver um quebra-cabeça nunca antes tentado em nenhum outro lugar do mundo. O premiado arquiteto japonês Toyo Ito, conhecido por suas obras impressionantes na Europa e na Ásia, com geometrias inspiradas na natureza e formas próximas à fantasia, projetou o Museu Internacional do Barroco em Puebla, México.
Ninguém sabia como executá-lo, e apenas uma equipe de construtores mexicanos aceitou o desafio após dois anos sem que ninguém aceitasse o projeto. Foi necessário inventar um processo construtivo e improvisar soluções extraordinárias para atingir a meta em apenas 27 semanas.
curadoria
O tema curatorial proposto originalmente "Aprendendo com Brasília" – título emprestado do livro "Aprendendo com Las Vegas" (1972), de Venturi, Scott Brown e Izenour – pautou a seleção da programação da Mostra. Passados 61 anos da inauguração, hoje parece possível pensar Brasília para além de uma compreensão congelada de patrimônio, estimulada ainda, talvez, por certo ufanismo pioneirista. Brasília continua em construção, e aprender com ela significa não apenas superar o debate em termos de êxito ou fracasso da utopia que motivou sua construção; significa acima de tudo entender o funcionamento condicionado pela singularidade de seu projeto de cidade. “A cidade precisa seguir vivendo o seu normal, ou seja, viver o seu cotidiano urbano a despeito do monumental e do midiático [...] Quando se trata de uma cidade tão singular, pensada em perspectiva tão otimista e utópica, torna-se necessário recobrar o sentido cotidiano inerente a uma cidade”.[¹]
Como então pensar Brasília a partir de um texto que representa, em tese, uma crítica das mais veementes – a própria antítese, diríamos – da doutrina modernista que serviu de base para a concepção da cidade? É precisamente este o debate que o confronto entre a Brasília modernista, racionalista e organizada de Lúcio Costa e a Las Vegas ordinária, espontânea e ambivalente de Venturi traz à tona: é no cotidiano que se aprende com as cidades, é nele que se encontram os dados do real que precisam ser elaborados e compreendidos. Ao se confrontar cidades tão distintas, a reflexão subjacente proposta pela curadoria da Cinema Urbana deste ano é que o debate formalista, aludido na relação dicotômica entre a capital brasileira e a cidade norte-americana dos jogos de azar, parece hoje ultrapassado. O vivido é que importa de fato ser pensado hoje sobre qualquer cidade, e o cinema de arquitetura é um meio privilegiado de observação crítica e reflexiva sobre os encontros, os usos, as ocupações e as (re)criações que se operam nas vivências do espaço de uma cidade.
A proposta então se ampliou para que, a partir dessas duas cidades, se pudesse pensar em todas as outras, sobre nós como "seres urbanos", como nomeia o arquiteto português Nuno Portas. A questão que se coloca é o que podemos aprender com as cidades em que estamos vivendo e construindo?
Por André Costa, pesquisador e curador de cinema de arquitetura, mestre em cultura contemporânea e doutor em cinema brasileiro pela FAC-UnB, professor do Departamento de Expressão e Representação da FAU-UnB.
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[¹] ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. Brasília-patrimônio: desdobrar desafios e encarar o presente.Artigo apresentado originalmente no seminário do Docomomo Sul, março de 2013, Faculdadede Arquitetura da UFGRS, Porto Alegre. < https://www.archdaily.com.br/br/artigos>
Ficha técnica
Idealização Cinema Urbana: Liz Sandoval Realização: Moveo Filmes Curadoria: Daniela Marinho e Thay Limeira Direção Geral: Daniela Marinho Direção Artística: Thay Limeira Produção Executiva: Heloísa Schons Comunicação: Agência Um Nome (Guilherme Tavares e Luana Angreves) Identidade Visual: Gabriela Bilá Cenografia: Marina Fontes Curadoria VJ e DJs: Mari Mira e Pati Egito Produção de Cópias: Rafaella Rezende Supervisão de Projeção: Nicolau Araújo Coordenação de Produção: Lela do Cerrado (Tomada Conexões Artísticas) Produção Musical: Tâmara Jacinto Projeção: Jay Barros Consultor de Acessibilidade: Paulo Lafayette Oficinas: Luênia Guedes (Todo Público) Coordenador Administrativo (LIC): Guilherme Azevedo Assistência de Direção Geral: Dagmar Machado Assistência de Produção de Cópias: Dora Simões Assistência de Produção: Isabela Queiroz Assistência de Produção Executiva: Maria Eduarda França Cenotécnico: Arte Ok (Bruno Francisco Chagas) Produção Sala de Cinema: Guilherme Marinho Mestres de Cerimônia: Larissa Mauro e Isabella Baroz Intérprete em Libras: Tatiana Elizabeth Registros Fotográficos: Taysa Barros Acessibilidade: Relatar-se
